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Gloster Gladiator

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Gloster Gladiator foi o último caça biplano da RAF.
Apareceu no momento em que a Gloster decidiu, a título privado, desenvolver o seu velho biplano Gloster Gauntlet, elevando o conceito de caça biplano ao pico da perfeição técnica, num momento em que os modernos caças monoplanos de construção totalmente metálica começavam a eclipsar os biplanos.
Embora já obsoleto no início da Segunda Guerra Mundial, a habilidade e determinação de seus pilotos, permitiu que o Gladiator adquirisse uma certa reputação de guerra, porém quando chamado a envolver-se com aviões de combate modernos, os limites da sua conceção foram cruelmente expostos.
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GALERIA

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Gladiator Mk I
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Sea Gladiator Mk I, Malta 1940
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Gladiator Mk II, FA Finlândesa, 1940
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Gladiator Mk I, 1937
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Gladiator vs Hurricane, SC
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Gladiator Mk.I, Shuttleworth Collection









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HISTÓRIA
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No início dos anos 1930, os esquadrões de caça da RAF estavam equipadas com aeronaves Bristol Bulldog, Hawker Fury e Hawker Demon. A Gloster Aircraft Company produziria o Gloster Gauntlet entre 1933 e 1936  para substituir o Bulldog, mas na realidade a aeronave nunca esteve à altura das exigências e a sua produção não ultrapassou as 240 unidades.

No final de 1931 o Ministério Britânico da Aeronáutica emitiu a especificação Especificação F.7/30 para um caça com uma velocidade máxima superior a 402 km/h (superior a velocidade do mais recente caça da RAF o Hawker Fury), armado com 4 metralhadoras, e motorizado com um motor Rolls-Royce Goshawk V-12 (um desenvolvimento do Rolls-Royce Kestrel).

Prototipo do Gloster Gladiator, 1935
(a fuselagem pertence a um Gloster Gauntlet)
O Ministério da Aeronáutica sentia a necessidade urgente de encontrar um caça que no imediato suprisse a falta deste tipo de aeronaves durante o período em que os projetos em curso dos futuros Hurricane e Spitfire não estivessem disponíveis. 

A Gloster propôs uma aeronave baseada no Gauntlet com uma unidade de cauda redesenhado, Motor Bristol Mercury Mk.VIII, um cockpit fechado, e armada com 4 metralhadoras Browning M1919 de 7.7 mm (duas nas asas e duas na fuselagem). 

O desenvolvimento do que se tornaria o Gladiador começara como um empreendimento privado da Gloster, designado internamente como SS.37, que inicialmente pretendera transformar o Gauntlet numa aeronave mais capaz. No entanto durante esse caminho a equipa de projetistas liderada por HP Folland, concluiu que com a implementação de um limitado conjunto alterações já identificadas o SS.37 conseguiria ser capaz de responder às exigencias da especificação F.7/30. A resposta tardia da Gloster que inicialmente não apresentara qualquer proposta à especificação, acabaria por ser bem aceite pelo Ministério da Aeronautica que ficara insatisfeito com as propostas apresentadas pela Hawker, Bristol, De Havilland e Westland.

Na primavera de 1934, a Gloster iniciou a construção de um unico prótótipo SS.37, que estaria concluido em setembro. Inicialmente acionado por um motor Mercury IV de 530 cv, o protótipo foi rapidamente reequipado com um motor Mercury VIS de 605cv, com o qual atingiria em testes a velocidade de 389 km/ h, quando já estava armado com as quatro metralhadoras de 7,7 mm exigidas (Duas Vickers sincronizadas na fuselagem e duas Lewis sob a asa inferior).Em abril de 1935, o protótipo foi transferido para a Royal Air Force (RAF), que lhe atribuiu a matricula K5200, e deu inicio aos testes operacionais da aeronave.

Em simultâneo na Gloster planeava-se a substituição do motor por um melhorado e mais potente Mercury IX de 840cv, uma hélice de passo fixo de madeira de duas pás, trem de aterragem melhorado e um cockpit totalmente fechado por uma canópia deslizante. Estas modificações seriam implementadas nas aeronaves de produção depois de previamente testadas no K5200. 

Em junho de 1935, foram apresentados os planos de produção para a aeronave e duas semanas depois, estava pronta a especificação de produção F.14/35, rapidamente elaborada, e parcialmente motivada pelos eventos que entretanto ocorriam na Europa continental, como a invasão da Abissínia pela Itália fascista e a ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha. Estes eventos levaram o governo britânico a determinar uma urgente expansão da RAF, capacitando-a para combater as ameaças emergentes.

Em 01 de julho de 1935 a atribuição do nome do Gladiator foi oficialmente anunciado, e feita uma encomenda inicial de 23 aerponaves seguida em setembro por uma segunda de 180.

O primeiro Gladiator Mk I de produção, voou em janeiro de 1937, e o 72º esquadrão em Tangmere recebeu a sua primeira aeronave no dia 23 de fevereiro. O último Mk I para a RAF seria entregue no final de 1937.

Gladiator Mk I à saida da Gloster Aircraft Company, 1937,
antes da entrega ao 72º esquadrão da RAF
No inicio de 1938, a produção passou para a nova versão Gladiator Mk II, equipada com o motor Mercury VIIIA, ligeiramente mais potente, uma hélice de três pás em metal, e as metralhadoras Vickers e Lewis substituidas por quatro Browning de 7,7 mm. Porém por esta altura os esquadrões da RAF começavam a receber os primeiros Hurricane e Spitfire e a produção do Gladiator acabaria por cessar..

No final de 1937, a Royal Navy tinha começado a mostrar interesse em uma versão bordo do Gladiador II como um substituto para o Hawker Nimrod. Como medida de emergência, alguns Gladiators da RAF foram adaptados e transferidos para a Royal Navy com a designação de Sea Gladiator . Tendo os primeiros embarcado no HMS Courageous ( 801º Esquadrão) em março 1939.

Quando a Segunda Guerra Mundial começou em setembro de 1939, apenas quatro esquadrões de combate baseado no Reino Unido ainda estavam equipados com Gladiator.

Transporte de um Gladiator do 6º esquadrão da RAF
 no Norte de África
Em abril de 1940, o 263º esquadrão foi enviado para a Noruega para ajudar as forças britânicas contra a invasão alemã. Os poucos sobreviventes embarcaram em HMS Glorious que foi posteriormente destruído pelos cruzadores de batalha alemães Scharnhorst e Gneisenau.

Apenas o 247º esquadrão  baseado em Roborough voou oficialmente em Gladiator durante a Batalha da Inglaterra. Realizou inumeros voos de patrulha mas nunca participou em qualquer combate sobre a Inglaterra.

Quando a Itália entrou na guerra em junho de 1940, os Gladiator equipavam os 33º e 80º esquadrões da RAF no Egipto, e o 94º, sediados em Aden. O Gladiator provou ser eficaz contra o Fiat CR.42, ajudou a repelir a invasão italiana do Egito e a derrotar as forças italianas na África Oriental, continuando ao serviço da RAF no Norte de África ao longo de 1941. Porém em janeiro de 1942 já todas as unidades tinham sido retirado da linha de frente.

Gladiator Mk.II, 3º esquadrão da RAF, Helwan, Egipto, 1940
Em Malta a Royal Navy tinha estacionados alguns de Sea Gladiators para reabastecimento dos esquadrões de bordo dos porta-aviões, quando necessário. Durante 10 dias (de 11 a 21 de junho) estes Sea Gladiator foram a única defesa aérea da ilha, aos ataques da Regia Aeronáutica Italiana (foram pelo menos realizados três durante esse período).

Os Gladiator dos 80º e 112º esquadrões participaram na campanha grega, mas não estavam a altura da Luftwaffe quando esta se juntou à batalha.

No total foram produzidos 747 Gloster Gladiator, muitos deles exportados para vários países estrangeiros e que participaram ativamente em conflitos. Aqui destacam-se os fornecidos a China que os usou contra os Japoneses, na defesa de Siuchow em 1938 e os exportados para a Suécia e Finlândia, usados pela Força Aérea da Finlândia (Ilmavoimat) na Guerra de Inverno de 1939-40, contra os russos, tendo destruído seis bombardeiros e seis caças, nos 62 dias que estiveram em ação, perdendo apenas 3 Gladiator.

Para além destes outros Gladiator foram fornecidas para as forças aéreas aliadas, incluindo a Grécia, África do Sul , Egito e Portugal, onde permaneceu em uso até 1953 para treino avançado de pilotos. 

Hoje o único Gladiator em condição de voo é agora mantido e preservado pela Shuttleworth Collection em Old Warden, Bedfordshire.

PORTUGAL
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A Aeronáutica Militar (A.M.) recebeu o primeiro grupo de 15 aviões Gloster Gladiator Mk II em Setembro de 1938, transportados por via marítima e montados nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), com os quais se formou uma Esquadrilha de Caça na Base Aérea da Ota, tendo sido matriculados com os números de 450 a 464. Em Outubro de 1939 chegaram mais 15 Gloster Gladiator Mk II, que constituíram a Esquadrilha de Caça da Base Aérea de Tancos tendo recebido as matriculas 465 a 479. 

Gladiator Mk II, AM Portuguesa, BA Ota
Aproveitando o grande poder de manobra dos Gloster Gladiator, constituíram-se algumas patrulhas acrobáticas com quatro aviões que deram brado na época, exibindo-se com grande virtuosismo.

Estavam pintados em verde-azeitona na fuselagem e planos superiores das asas, e de azul claro nas superfícies inferiores. Ostentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, distribuídas pelo extra-dorso das asas superiores e pelo intradorso das inferiores. A bandeira nacional, com escudo, estava no centro do leme de direção. A numeração estava pintada lateralmente na fuselagem, em algarismos brancos, e nos no intradorso das asas inferiores, entre a fuselagem e a insígnia da Cruz de Cristo, em algarismos pretos.

Os aviões da Esquadrilha de Caça da Base Aérea de Tancos ostentavam na fuselagem, entre a matrícula e as asas, o galgo amarelo, símbolo da Base. 

Gladiator Mk II, AM Portuguesa
Em 1941, durante a II Guerra Mundial, apresentou-se a necessidade da defesa aérea do Arquipélago dos Açores, sendo esta missão incumbida aos Gladiator.

Assim, a Base de Tancos organizou a Esquadrilha Expedicionária de Caça Nº 1 (EEC1), deslocando os 15Gladiator para a Ilha de São Miguel, ficando instalados no Aeródromo de Rabo de Peixe a partir de 8 de Junho de 1941. Mantiveram o símbolo da Base de Tancos pintado na fuselagem.

Do mesmo modo, a BA2, Ota, formou a Esquadrilha Expedicionária de Caça Nº 2 (EEC2), também com 15 aviões, que seguiram para a Ilha Terceira, onde chegaram em 13 de Junho de 1941, instalando-se nas Lajes. Esta Esquadrilha adotou para distintivo um mosquito com luvas de boxe, que passou a ostentar na fuselagem dos aviões. 

As missões das Esquadrilhas consistiam, para além do treino operacional, em voos de reconhecimento meteorológico, reconhecimento de navios de guerra e comboios marítimos e de patrulhamento aéreo, estas prevendo a violação do espaço aéreo nacional por aviões alemães. Na realidade, as ilhas foram várias vezes sobrevoadas em voos rasantes, inclusive o Aeródromo das Lajes, por aviões alemães Focke Wulf Fw-200 Condor. Os Gladiator tentaram algumas intercepções, sem sucesso, dadas as suas modestas performances.

A EEC1 regressou a Tancos em Julho de 1944 e a EEC2regressou à Ota em meados de 1946.

Gladiator Mk II, 2ª Esquadrilha de Caça Expedicionária,
AM Portuguesa, Ilha Terceira, Açores, 1941
Entre 1948 e 1950 foi retirada de serviço uma quantidade significativa de Gladiator. Os sobreviventes foram utilizados naBA2 e na BA3 para treino de acrobacia dos pilotos de caça.

Em 1952, os Gladiator da BA2 são transferidos para a BA3, formando uma única Esquadrilha. Foram sendo retirados do serviço progressivamente, processo que terminou em 1953.

Os Gloster Gladiator foram os aviões de caça que asseguraram a defesa aérea do território nacional entre 1938 e 1941. Os Curtiss Mohawk, recebidos em 1941, e depois os Spitfire e os Hurricane, vieram relegá-los para segundo plano. Os pilotos referem com entusiasmo a sua capacidade de manobra, dando a devida ênfase ao facto de permitirem a execução de tonneaux a subir na vertical, o que na época era uma raridade.

Quando foi criada a Força Aérea Portuguesa (FAP), em 1952, restava um número muito reduzido de Gloster Gladiator Mk II na BA3 que ainda não tinham sido abatidos ao efectivo. A FAP reservou-lhes, por isso, as matrículas do bloco 4100, que, no entanto nunca chegaram e ser utilizadas. O processo de abate completou-se em 1953.


Texto de:
"Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000.

FICHA DA AERONAVE
GERAL:
  • ANO DO PRIMEIRO VOO: 1935
  • PAÍS DE ORIGEM:  Reino Unido
  • PRODUÇÃO:  747
  • PAÍSES OPERADORES: 
Reino Unido, Austrália, Bélgica, China, Egito, França, Finlândia, Grécia, Iraque, Irlanda, Noruega, Portugal, Roménia, África do Sul, União Soviética, Suécia
ESPECIFICAÇÕES DE VARIANTE 
  • VARIANTE: Mk II
  • FUNÇÃO: Caça
  • TRIPULAÇÃO:  1
  • MOTOR:  1 x Bristol Mercury VIII
  • PESO VAZIO: 1562 (kg)
  • PESO MÁXIMO NA DESCOLAGEM:  2206 (kg)
  • COMPRIMENTO: 8,36 (m)
  • ENVERGADURA: 9,83 (m)
  • ALTURA: 3,53 (m)
PERFORMANCE
  • VELOCIDADE MÁXIMA:  414 (km/h)
  • RAIO DE COMBATE: 714 (km)
  • TETO MÁXIMO:  10000  (m)
ARMAMENTO
  • FIXO: 
4 metralhadoras Browning M1919 de 7.7mm (duas nas asas inferiores e duas na fuselagem)

  • CARGA BÉLICA:

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PERFIL
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DESENHOS
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FONTES
REVISÕES E RECURSOS ADICIONAIS
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  • Publicação e Revisões
# Revisto em 2020-02-29#
# Publicado em 2015-04-06 #
  • Recursos Adicionais
# Gloster Gladiator K7985, em voo#

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