LaGG-3 - Caças Lavochkin com motor de pistão

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Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, o estado Soviético deu inicio a um programa acelerado de desenvolvimento de aeronaves de combate, como preparação para um eventual confronto com a Alemanha Nazi. No entanto a introdução de novas aeronaves na VVS (Voyenno Vozdushniye Sily/Força aérea soviética) só começou após o inicio da invasão da URSS pelas forças do Reich, no dia 22 de junho de 1941.
Entre os aviões que foram rapidamente chamados a combater a Luftwaffe estava o Lavochkin LaGG-3, um caça monomotor contruído em madeira que embora se mostrasse inadequado para enfrentar os modernos caças alemães, era o melhor que a VVS podia dispor no período imediatamente as seguir à invasão.
Apesar das deficiências, largamente descritas pelos pilotos, o LaGG-3 era uma aeronave promissora, e a prova disso é que se tornou a plataforma de base de alguns dos melhores caças soviéticos da Guerra os Lavochkin La-5, e La-7, estendendo-se mesmo ao pós guerra com os Lavochkin La-9 e La-11.
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GALERIA

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LaGG-3 (Serie 01)
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LaGG-3 (Serie 66)
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La-5F
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La-7
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La-9
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La-11









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HISTÓRIA
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  • LaGG-1, a origem
Semyon Alekseyevich Lavochkin, trabalhara na TsAGI (Instituto Central de Hidro e Aerodinâmica em Moscovo) desde 1929, no desenvolvimento de um material de construção especial que possibilitasse a produção de aviões de combate de alto desempenho inteiramente feitos de madeira. O material deveria ser mais leve que o duralumínio, não inflamável, e fácil de modelar e trabalhar. Já como parte do OKB-301 fundado em maio de 1939, em conjunto com  Vladimir P. Gorbunov e Mikhail I. Gudkov, ele projetou um caça de construção em madeira compensada embebida em resina sintética feita de bétula siberiana, um novo tipo de material de construção de madeira, e que deveria permitir a produção em série de forma rápida e barata. 

LaGG-3 (serie 01) na fabrica nº 31
O projeto do I-301 (algumas fontes referem estes primeiros protótipos como I-22) como foi originalmente designado, fora iniciado em 1938, como uma aeronave ligeira projetada em torno do motor Klimov M-105 e construída em madeira laminada para economizar os materiais estratégicos. O primeiro protótipo voou em 30 de março de 1940 e, após a resolução de algumas deficiências iniciais, mostrou-se promissor, embora um pouco aquém do que seus projetistas esperavam. 

O I-301 emergiu como um monoplano limpo, de aspeto aerodinâmico, asa baixa e trem de aterragem retrátil e motor M-105P refrigerado a água, que movia uma hélice de três pás de passo variável VISH-61. A sua fuselagem era totalmente construída de madeira, com uma estrutura tipo monocoque, de onze cavernas ligadas por quatro longarinas, de seção transversal oval, transformando-se numa quilha em treliça na cauda. Era usada principalmente madeira de pinho, com a tília e o freixo usadas nas partes sujeitas a maior esforço estrutural. 

A construção essencialmente, em compensado de madeira colado e revestimento de madeira impregnada com resina de fenol, um material construtivo conhecido como “Delta-drevesina” (plástico-madeira), por muitos considerado, como um dos primeiros materiais compósitos, seria, em parte, responsável pelo atraso inicial na produção pois, embora a madeira estivesse disponível em grandes quantidades, a resina de fenol era importada, nomeadamente dos EUA que por causa da Guerra de Inverno mantiveram durante algum tempo um embargo as exportações para a URSS.

LaGG-3 (Serie 11), equipado com skis
Todas as partes de madeira da fuselagem eram coladas com cola sem pregos ou parafusos e o revestimento com uma espessura variável entre 9,5 mm na parte frontal da fuselagem a 3 mm na cauda era colado com verniz de bétula, com acabamento exterior de tecido impregnado em resina de fenol, lixado e polido antes de pintado. As asas, também de madeira com a mesma técnica construtiva, possuíam superfícies de controlo convencionais (flaps, ailerons, leme e leme de profundidade). Uma estrutura metálica conectada à parte frontal da fuselagem servia de suporte ao motor e ao armamento.

O projeto original previa um armamento robusto, composto por um canhão de tiro rápido MP-6 de 23 mm que estava a ser desenvolvido por Yakov Grigoryevich Taubin, instalado no centro do bloco do motor com disparo através do eixo da hélice, duas metralhadoras pesadas Berezin BS de 12,7 mm instaladas acima do motor, e possibilidade de instalar mais duas ShKAS de 7,62 mm.

O trem de aterragem principal, construído em tubos de aço galvanizado, recolhia hidraulicamente para poços nas asas internas em direção à fuselagem, enquanto a roda traseira era fixa. Para operação em campos de gelo, em algumas aeronaves de produção posteriores, as rodas seriam substituídas por skis simples que ficavam junto á barriga após a retração do trem de aterragem. O piloto sentava-se sob uma canópia tipo "razorback" que abria deslizando para trás. 

LaGG-3, 5º IAP, Inverno de 1941
A urgência na modernização dos meios à disposição da VVS, evidenciada pelas recentes perdas na Guerra de Inverno com a Finlândia, conduziu à colocação de um pedido urgente de um lote de cerca de 100 aeronaves de pré-produção para esquadrões de avaliação, e foi aí, que onde as suas deficiências rapidamente se tornaram óbvias. O novo caça tinha uma potência claramente insuficiente, era pouco ágil, possuía um alcance inadequado, e exigia dos pilotos um enorme esforço para controlo da aeronave em algumas manobras, nomeadamente a saída de um parafuso que se tornava por vezes impossível. Era evidente que enquanto os protótipos foram cuidadosamente construídos e acabados à mão, os exemplares produzidos em massa eram comparativamente toscos.

Após a entrega das primeiras 100 aeronaves, às quais foi atribuída a designação oficial de LaGG-1, as deficiências de uma construção apressada tornaram-se evidentes, em resultado das fragilidades tecnológicas na produção. 

  • LaGG-3 
O projeto do modelo I-301 foi, entretanto, revisto para resolver as muitas insuficiências identificadas, mas a única que de facto foi solucionada foi o problema do alcance insuficiente, resolvido com a instalação de maiores tanques de combustível, três, auto-selantes, na seção central das asas. A potência insuficiente do motor Klimov M-105P e as deficiências no sistema de controlo permaneceram.

O primeiro voo do modelo I-301 redesenhado, foi realizado em 14 de junho de 1940, e após vários aperfeiçoamentos a aeronave foi capaz de atingir 605 km/h o que a tornava num dos caças soviéticos mais rápidos da época. A lista de deficiências identificadas durante os testes não obstaram a que um primeiro lote de 25 aeronaves fosse encomendado para avaliação de serviço.

LaGG-3 (serie 11) com PTB (tanques de queda)
O progresso satisfatório e a urgência em obter aeronaves modernas para substituir os obsoletos Polikarpov I-15 e I-16 da VVS, perante a eminência da guerra com a Alemanha, conduziram a que em outubro de 1940, fosse dada a ordem de entrada em plena produção da aeronave com a designação de serviço de LaGG-3 (Lavochkin, Gorbunov, Gudkin), apesar de não terem sido concluídos os testes de serviço e corrigidas as deficiências identificadas. 

Por esta altura, Gorbunov e Gudkin foram destacados para outras funções, e a produção principal do LaGG-3 foi atribuída à fábrica estatal 21 em Gorky (Nijni Novgorod), chefiada por Lavochkin embora outras fabricas fossem também envolvidas (a fábrica 23 em Leningrado que produzira as primeiras unidades e as fabricas em Tallinn, Novosibirsk (OKB 153), e Denpropetrovsk).

  • LaGG-3 series 1 a 3
O plano para 1941 exigia a produção de 2960 caças LaGG-3, mas até junho apenas saíram 322 aeronaves das linhas de montagem, muito por causa da falta de planeamento e às dificuldades sentidas por Lavochkin em implementar a produção em Gorky, para onde muitos dos mais qualificados trabalhadores se recusaram a ir e onde os trabalhadores locais, que durante muito tempo produziram com sucesso os Polikarpov I-16, não aceitaram de bom grado a sua substituição por um projeto completamente novo. O primeiro LaGG, fabricado em Gorky, descolou do aeródromo da fábrica em 23 de janeiro de 1941.

O armamento padrão das três primeiras series de produção do LaGG-3 consistia em cinco metralhadoras Berezin de 12,7 mm, uma BC (em vez de um canhão MP-6 em desenvolvimento), e duas BS e duas ShKAS de 7,62.

Intrigas e dificuldades técnicas associadas ao desenvolvimento do canhão MP-6 levaram à prisão e fuzilamento de Yakov Grigoryevich Taubin e ao cancelamento do desenvolvimento do canhão, consequentemente, a metralhadora Berezin BC foi substituída em series posteriores por um canhão ShVAK de 20 mm ou um Volkov-Yartsev VYa-23 que possuíam características semelhantes ao previsto MP-6.

As máquinas de produção possuiriam um rádio e uma radiobússola (radiogoniómetro), esta última uma espécie de inovação na época para os caças soviéticos. 

LaGG-3 (serie 14), 44ºIAP, Leninegrado, 1941
O serviço operacional rapidamente revelou que as aeronaves de produção não possuíam o desempenho dos protótipos, devido ao peso adicional do equipamento operacional. Lavochkin, Gorbunov e Goudkov tinham projetado a aeronave para o motor M-106 cujo desenvolvimento acabara por ser cancelado obrigando-os a usar o motor M-105P de menor potencia. Por outro lado o LaGG-3, com o mesmo motor e armamento quase semelhante, era 300 kg mais pesado que o seu contemporâneo Yak-1, principalmente pela sua estrutura de madeira, disso resultando um desempenho inferior. 

A baixa qualidade de produção em massa, tornou-se responsável pelo menos inicialmente, por um serie de defeitos graves, como a tendência desagradável para a aeronave subir abruptamente na aterragem, o sistema de arrefecimento do motor era inadequado, o trem de aterragem colapsava frequentemente devido à falha do sistema hidráulico. 

Contrariamente aos protótipos, o LaGG-3 de produção era lento, com uma velocidade máxima de apenas 475 km/h, e uma taxa de subida ao nível do solo de apenas 8,5 metros/segundo. Era difícil de pilotar pois reagia lentamente aos controlos e exigia dos pilotos o uso de força excessiva. Era particularmente difícil faze-lo sair de um mergulho ou realizar curvas apertadas, e se os controlos fossem puxados com demasiada força ele tendia a entrar num parafuso descontrolado.

Por tudo isto a aeronave tornou-se imensamente impopular entre os pilotos. A sua grande vantagem em combate era a sua robustez e a incrível capacidade de sobrevivência aos danos em combate, proporcionada pela estrutura de madeira, capaz de suportar impactos de projeteis de elevado calibre sem perder integridade estrutural e mesmo de munições explosivas sem se incendiar.

O esforço dos engenheiros de Lavochkin, concentram-se na correção das deficiências e na redução do peso da aeronave, que acabaria por ser feita com recurso diminuição do armamento, para um canhão ShVAK de 20 mm e duas metralhadoras Berezin UBS de 12,7mm (aparentemente algumas aeronaves possuíam apenas o canhão e uma metralhadora).

  • LaGG-3 series 4 a 8
LaGG-3 (serie 35), uma das três aeronaves
 capturadas e usadas pela força aérea Finlandesa (LG-3)
Os caças LaGG-3 das três primeiras séries praticamente não diferiam uns dos outros. A partir da serie 4 a metralhadora Berezin BC (do centro da hélice) foi substituída por um canhão ShVAK de 20 mm que obrigou à remoção da metralhadora Berezin BS do lado direito.

A partir desta serie as aeronaves começaram ter motores Klimov M-105PA mais avançados, embora com a mesma potência dos M-105P, possuíam um carburador K-105PB aprimorado. 

Mudanças estruturais foram também feitas na fuselagem da aeronave, mas a aeronave continuava com características de vou muito abaixo dos protótipos e até piores que as das primeiras series. A velocidade baixou para os 549 km/h e a autonomia baixou para 870km (1100 nas primeiras series) e a capacidade de manobra deteriorou-se.

Em quase todos os aspetos, a aeronave era inferior ao caça alemão Bf 109F-4 que entrou na Frente Oriental no início da guerra, no entanto nas mãos de pilotos experientes ele podia competir bem com os adversários muito graças à sua capacidade de sobrevivência.

A próxima grande mudança no design da aeronave foi feita na série 8 de produção. O uso de combate do LaGG-3 mostrou baixa eficiência das metralhadoras ShVAK de 7,62 mm que foram por isso removidas ficando o armamendo reduzido ao canhão ShVAK de 20mm e á metralhadora esquerda Berezin BS de 12,7mm.

A produção desta serie foi iniciada no final de 1941 e na fase final de produção o canhão ShVAK foi substituído por um canhão Volkov-Yartsev VYa-23 de 23 mm que possuía uma cadência de tiro de 370 a 500 tiros por minuto e uma velocidade inicial de projétil de 905 m/s, e que demonstraria ser bastante eficaz contra veículos de blindagem reduzida.

  • LaGG-3 serie 11
Quando em junho de 1941 a Alemanha deu inicio á operação Barbarossa, e os estrategas Soviéticos sentiram necessidade de aeronaves de ataque ligeiro para apoio às tropas do exercito vermelho na tentativa de abrandar o rápido avanço do exercito nazi. Com o objetivo de dotar o LaGG-3 de capacidade de ataque foi introduzida em produção a serie 11. As aeronaves desta serie foram equipadas com lançadores para seis foguetes RS-82 ou RS-132, ou suportes D3-40 para bombas até 50 quilos (bombas FAB 50 de alto explosivo, de fragmentação AO-25M e FAB-50M, ou químicas HAB-25 e AOX-15). Estas aeronaves podiam também ser carregadas com um depósito de 38 litros de gás fosfórico e um atomizador ASBR-2 capaz de ejetar todo o gás em 3-4 segundos. A carga ofensiva não podia ser superior a 200 quilos, mas mesmo assim foi necessário compensar essa carga adicional reduzindo a capacidade interna de combustível com a eliminação dos tanques laterais que tinham sido introduzidos na segunda versão do I-301. 

Esta versão de ataque do LaGG-3 foi usada pela de Frente Kalinin no final de 1941 e no início de 1942 e 129º regimento de aviação da VVS, tendo algumas das aeronaves sido convertidas numa versão de inverno com a substituição do chassi de rodas por skis. No final de 1941 tinham sido construídos um total de 2,463 caças LaGG-3.

  • LaGG-3 series 23 a 35
LaGG-3 (Serie 66)
Em 1942, foram introduzidas versões melhoradas do LaGG-3. A primeira foi a serie 23, que diferia de seus antecessores por possuir um estabilizador vertical e leme de maiores dimensões, como objetivo melhorar o desempenho de voo. 

Na serie 28 foi introduzido um novo motor Klimov M-105PF mais potente e conseguiu reduzir-se o peso da aeronave para os 2865 kg conseguindo com isso melhorar as características de voo. A velocidade máxima era agora de 566 km/h e a taxa de subida de 781 m/s. Na serie seguinte foi introduzida uma hélice VISH-150SV de maior diâmetro e nas serie seguintes, até à 35 foram introduzidas numerosas, mas pequenas mudanças na aerodinâmica da fuselagem impercetíveis a olho nu, mas que contribuíam de forma importante para a melhoria das características de voo do LaGG-3. No total, 2.771 caças LaGG-3 foram construídos em 1942.

  • LaGG-3 serie 34
Durante o ano de 1941 tinham sido construídas cerca de 20 aeronaves LaGG-3 equipadas com um canhão de 37mm destinadas ao ataque contra viaturas blindadas, no entanto o verdadeiro LaGG-3 antitanque só surgiria em agosto de 1942, como serie 34. As aeronaves desta serie possuíam uma hélice VISH-61P com um diâmetro de 3 metros, um sistema de cinco tanques de combustível (a capacidade permanecia idêntica à das outras series), suportes para bombas e foguetes instalados nas asas, um canhão Nudelman-Suranov NS-37 de 37 mm com 140 munição (inicialmente foi testado o Shpitalny MPSh-37 que estava em desenvolvimento mas acabou por não entrar em produção em massa). A metralhadora esquerda Berezin BS de 12,7mm foi mantida.

  • LaGG-3 serie 66
LaGG-3 (serie 66), 9ºIAP Frota do Mar Negro,
 Novorossiysk, Primavera de 1944
Apesar de, a partir de 1943, estarem disponíveis para a VVS, a produção de caças mais avançados, incluindo os Lavochkin La-5, o LaGG-3 continuou a ser produzido ao longo de 1943 até meados de 1944 na fabrica de Tblisi, como serie 66, atingindo a produção total de 6528. É claro que as terríveis deficiências da produção inicial haviam sido corrigidas e novos aperfeiçoamentos foram sendo introduzidos, mas a aeronave nunca superou totalmente a sua má fama inicial entre os pilotos e o problema crónico da potência insuficiente do motor, mesmo depois de introduzida uma versão melhorada e de maior potência, o Klimov VK-105PF-2.

Apesar da produção contínua, o LaGG-3, parece nunca ter sido considerado muito mais do que um caça de segunda linha, usado principalmente na interceção de bombardeiros e no apoio próximo á infantaria, tendo como principais virtudes a robustez e o baixo custo de construção, 

Embora nenhum LaGG-3 tenha sido exportado, parece que alguns foram pilotados por pilotos franceses da Normandie-Niemen. Os finlandeses também capturaram três que usaram em combate contra os soviéticos, achando-o bem inferior ao Messerchmitt Bf 109G e os japoneses capturaram um de um desertor, que avaliaram sem o acharem relevante.

  • LaGG-3M-82, LaGG-5 e La-5
No início de 1941, ficou claro que o motor M-107 prometido por Vladimir Yakovlevich Klimov, embora tivesse passado nos testes de bancada, estava ainda muito longe de estar em condições de entrar em produção. 

Gu-82 (protótipo)
Enquanto isso, passava de forma quase despercebida para a maioria dos projetistas de caças soviéticos, a disponibilização, do motor radial Shvetsov ASh-82 (M-82), de 14 cilindros com uma potencia de 1650cv, um desenvolvimento do M-62 que equipava os Polikarpov I-15 e I-16 originalmente resultado do desenvolvimento do M-25, cópia licenciada do Wright R-1820 Cyclone de origem norte americana. Embora, como qualquer outro motor novo, o M-82 necessitasse de algumas arestas limadas, possuía menor diâmetro que os outros motores radiais que permitiam que pudesse ser colocado nos contornos da fuselagem de um caça. Gudkov foi o primeiro a entender e a por isso em prática, dentro do triunvirato LaGG, quando propôs aos militares o prótotipo Gu-82, uma modificação do LaGG-3 com o motor M-82. Quer Gudkov quer Lavochkin tinham na altura pouca influência sobre os órgãos de decisão da União Soviética e por isso a proposta não recebeu a devida importância, pelo que os trabalhos no Gu-82 foram interrompidos. Algum tempo depois, em julho de 1943, Gudkov seria afastado da função de projetista principal depois da morte de um piloto de testes durante o voo do protótipo Gu-1, um clone soviético do Bell P-39 Airacobra. Todo o pessoal afeto ao seu OKB, localizado na Fabrica Estatal 156 foi transferido para o OKB-301 de Lavochkin em Gorky.

No inicio de 1942 Arkadiy Shvetsov debatia-se com o problema da falta interessados no seu motor M-82, ao mesmo tempo que Lavochkin se debatia com um problema semelhante, não possuía um substituto para o LaGG-3 quando este saísse de produção na fabrica 21. O desenvolvimento do LaGG-3 estava num beco sem saída, depois do cancelamento do motor Klimov M-106 e o atraso na entrada em produção do M107, e por isso Lavochkin focou a sua atenção nos trabalhos prévios de Gudkov no Gu-82, e na adaptação da fuselagem do LaGG-3 ao motor Shvetsov ASh-82 (M-82).

Pormenor do motor instalado no LaGG-3 M-82
Adaptar o LaGG-3 ao novo motor não parecia ser tarefa trivial, pois, em primeiro lugar, pesava 250 kg a mais que o M-105, impactado necessariamente com centro de gravidade da aeronave, em segundo lugar, o diâmetro do M-82 era de 1260mm enquanto que a largura máxima do M-105 era de 798mm, sendo por isso necessário alterar de alguma forma a seção elíptica do nariz da fuselagem do LaGG para uma redonda sem prejudicar a sua aerodinâmica. Em terceiro lugar o M-82 impossibilitava a instalação do canhão no seu interior pelo que o esquema de armamento teria que ser repensado, passando pela instalação de canhões sincronizados na parte superior da carenagem do motor, pois o espaço interior útil das asas era ocupado por tanques de combustível.

A solução seria mais simples que o inicialmente previsto. O motor foi colocado mais próximo do centro de gravidade de forma a que fosse possível compensar o peso adicional com a mudança de apenas alguns equipamentos sem deslocar o centro de gravidade. Á carenagem de secção redonda do motor foi adicionada uma transição suave para a secção oval da restante fuselagem com alteração de apenas algumas cavernas e uma espécie de falso revestimento no exterior, unido os contornos da seção circular aos da secção oval.

O primeiro protótipo LaGG-3 M-82 levantou voo pela primeira vez em fevereiro de 1942, tendo o piloto descrito uma melhoria de desempenho de 10% apesar de revelar problemas de sobreaquecimento do motor entre outros problemas.

LaGG-3 M-82, equipado com skis, 
em testes no  TsAGI
Em abril Stalin foi informado pelo Vice-Ministro da Industria da Aviação Alexander Sergeyevich Yakovlev, que em testes de fábrica da aeronave LaGG-3 com motor M-82, dois canhões ShVAK com 440 cartuchos com peso de 3280kg, a velocidade máxima de 531 km/h ao nível do solo e de 586km/h, a uma altitude de 3025m, subindo até os 5000 metros em 6,1 minutos.

Foi também dado nota que uma fábrica que estivesse a construir o LaGG-3 com um motor M-105P poderia começar a produção do LaGG-3 com um motor M-82 em cerca de um mês e cumprir o cronograma definido em dois meses.

Em junho de 1942 o LaGG-3 M-82 completou os testes de voo oficiais. O novo motor apesar de mais pesado, fornecia a potência que faltava ao LaGG-3 tornando a nova aeronave significativamente melhor, em particular, na velocidade e na taxa de subida, no entanto, havia muitos problemas. O principal era a temperatura, pois devido à pressa os projetistas não foram capazes de modificar adequadamente o sistema de refrigeração do motor e da cabina e a instalação de um novo radiador não resolvia totalmente o problema. 

A colocação da nova aeronave em produção de serie fora decidida em finais de maio, mas as primeiras aeronaves de serie que saíram da fabrica 21 em Gorky, em julho de 1942, sob a designação LaGG-5 (pouco depois, em setembro, a designação oficial passaria a ser La-5, traduzindo liderança de Lavochkin no projeto da nova aeronave). A decisão de Stalin definia que todas as aeronaves LaGG-3 inacabadas na fabrica de 21 fossem convertidas para a nova configuração.

La-5F, no TsAGI
O LaGG-5 estava armado com dois canhões ShVAK de 20 mm , localizados na parte frontal da fuselagem, acima do motor mas possuía uma instrumentação muito pobre pois não tinha nem um único dispositivo giroscópico, como horizonte artificial ou bússola giratória . Se compararmos o LaGG-5 com aeronaves semelhantes na Alemanha, Grã-Bretanha ou EUA, ele parceria tecnicamente inferior a eles, no entanto, em termos de características de voo, atendia plenamente aos requisitos da época. Além disso, seu design simples, a ausência de necessidade de manutenção complexa e campos de decolagem pouco exigentes o tornavam-no ideal para as condições em que as unidades da VVS tinham de operar. Durante o ano de 1942, seriam produzidos 1129 caças LaGG-5.

Os primeiros La-5 chegaram às unidades de combate da VVS a partir de agosto de 1942, sendo considerada pelos pilotos muito melhor que o seu antecessor o LaGG-3. O seu aparecimento em Estalinegrado em finais de agosto surpreendeu os caças alemães, pois embora ainda inferior aos Messerschmitt Bf 109, a diferença de desempenho era menor, e superável por um piloto experiente.

  • La-5F e La-5FN
La-5F em voo
Os primeiros La-5 de produção não foram capazes de atingir as performances de voo do protótipo, utilizadas como suporte da decisão de Stalin e por isso as equipas de projetistas debruçaram-se na melhoria da aerodinâmica da fuselagem ao mesmo tempo que Shvetsov introduzia alterações ao seu motor M-82, para melhorar a sua performance no caça. 

A nova versão, M-82F (ASch-82F), do motor, com um sistema aprimorado de refrigeração e lubrificação, que lhe permitia operar continuamente em modo de decolagem ficou disponível e passou a ser maciçamente instalado a partir de dezembro de 1942 numa fuselagem aprimorado pelos projetistas da Lavochkin. A nova versão do caça que começou a sair das linhas de produção, foi designada por La-5F, e, para além do novo motor, possuía diversas outras melhorias. A mais visível em relação ao antecessor era a nova canópia que proporcionava uma melhoria muito importante da visibilidade do piloto, principalmente à retaguarda. Menos visíveis, mas não menos importantes foram as ligeiras alterações na fuselagem para melhorar a aerodinâmica, os ajustes nas superfícies de controle que claramente melhoraram o manuseio, e a revisão completa de toda a estrutura, com o objetivo de encontrar novas formas de reduzir o peso da aeronave sem comprometer a resistência e integridade estrutural.

La-5FN, um dos primeiros modelos de serie, 1943
Testes posteriormente realizados em aeronaves La-5F de produção demonstraram uma velocidade máxima de 557 km/h ao nível do mar e 590 km/h a uma altitude de 6200m (10 km/h mais do que o La-5), para além de uma melhoria notável da taxa de subida, o La-5F subiu para 5000 em 5,5 minutos, enquanto o La-5 subiu esta altitude por 6 minutos.

A versão definitiva, o La-5FN surgiria no verão de 1943, resultando da introdução de uma nova versão do motor, o M-82FN (ASh-82FN), com um sistema de injeção direta de combustível em substituição do carburador AK-82VP das anteriores versões. O novo motor pesava mais 30quilos, mas a sua potência à decolagem, aumentou 150cv, e a potência nominal, a uma altitude de 1650m, aumentou 90cv, para além ter melhor consumo de combustível mais eficiente. Essa melhoria permitiu colocar o alcance do La-5FN nos 634km contra os 580km do antecessor (as modificações introduzidas nas series de produção do LA-5 para melhorar as suas prestações de combate reduziram sucessivamente o seu alcance dos 970 para 820 e para apenas 580 quilómetros no La-5F).

Externamente o La-5FN, apenas se distinguia do seu antecessor pelo tubo de admissão de ar mais longo no topo da carenagem do motor, entre as duas armas.

La-5FN
A avaliação da aeronave em operação ocorreu entre julho e agosto de 1943 na Frente de Bryansk (posteriormente Frente Ucraniana) e de acordo com fontes soviéticas, num mês, em 25 batalhas aéreas, 14 pilotos soviéticos abateram 21 Fw-190, dois Me-109G-2, dois He-111, cinco Ju-88 e um Ju-87, perdendo apenas quatro La-5FN.

Neste período, distingue-se a façanha do piloto soviético Alexander Gorovets vice-comandante do 88º regimento de caças que no dia 6 de julho de 1943, no segundo dia da Batalha de Kursk, no comando de uma patrulha de caças La-5FN, encontrou uma grande formação de bombardeiros alemães (de acordo com várias fontes, 20 ou 50 aeronaves). Na batalha que se seguiu Alexander Gorovets ter-se-á afastado do resto da formação soviética devido uma avaria do seu equipamento de rádio e combatido sozinho no interior da formação inimiga abatendo nove bombardeiros inimigos antes de ser abatido por quatro caças alemães. Os restantes pilotos soviéticos abateram mais nove aviões alemães, cinco Ju-87, três Bf-109 e um Hs-126. Perderam apenas uma aeronave, a de Alexander Gorovets. Durante a 2ª Guerra Mundial Gorovets terá sido o único piloto de caça a obter nove vitórias numa única missão, porém as fontes soviéticas nas quais se baseia esta alegação entram em contradição com os relatórios de perdas da Luftwaffe no dia em questão, que reportam ter perdidos apenas metade das aeronaves alegadamente abatidas pelos soviéticos.

La-5FN
Certo é que os pilotos da Luftwaffe aprenderam a respeitar o La-5FN como um caça capaz de enfrentar em pé de igualdade qualquer dos caças alemães disponíveis na frente Leste, confirmando os relatos dos pilotos soviéticos que referiam que o La-5FN em altitudes até 4000 metro conseguia superar os Fw 190 e Bf 109, tanto em velocidade como em manobras horizontais e verticais.

Após o verão de 1943 a produção do La-5FN que se tornara padrão, foi incorporando pequenas melhorias, ao mesmo tempo que eram testadas outras modificações que não seriam introduzidas na produção em serie. Na primavera de 1944 foi testada a automação do acelerador do motor com o passo da hélice, que seria introduzida posteriormente no La-7. 

Varias outras modificações foram testadas com sucesso sem terem sido introduzidas em produção. O La-5TK, testou a instalação de um turbocompressor, com melhorias no desempenho em altitude, e o La-5M-71 testou a introdução de um motor radial Shvetsov M-71 (baseado no motor norte americano Wright R-1820 Cyclone), com excelentes resultados mas a indisponibilidade destes motores impediu a produção em serie.

Varias dezenas de aeronaves La-5 foram construídos como aviões de instrução, La-5UTI, com dois assentos em tandem sob uma canópia alongada e controlos duplos. Estas aeronaves possuíam apenas um canhão ou eram simplesmente desarmadas.

La-5FN modificado, com o tubo de sucção
movido para sob o motor
O La-5 permaneceu em produção de serie até finais de 1944, atingindo uma total de 9920 unidades construídas. 

Durante a guerra La-5 foi pilotado por pilotos de origem checa integrados na VVS e no final da guerra integrou a Força Aérea Checoslovaca sob a designação de S-95. 

Ainda durante a Guerra, um La-5FN foi forçado a aterrar atrás das linhas alemãs durante a guerra, foi reparado e voou com as cores da Luftwaffe para avaliação .

  • La-7
No inicio da segunda metade de 1943 o protótipo do La-5FN foi submetido a intensos testes em túnel de vento no TsAGI (Instituto Central Soviético de Pesquisa em Aerodinâmica e Hidrodinâmica) que sugeriram um conjunto de correções à aerodinâmica da fuselagem da aeronave. Seguindo instruções do TsAGI, os técnicos do OKB de Lavochkin modificaram um La-5FN com as especificações resultantes dos testes de túnel de vento submetendo-o a testes de voo no inicio de 1944. Os testes demonstraram um substancial aumento das performances da aeronave.

La-7
O La-5FN modificado era exteriormente muito semelhante ao seu antecessor, sendo a diferença mais notável, a mudança da entrada de ar no motor, de cima da capota para as raízes das asas, mudança que, alem de melhorar a aerodinâmica permitiu também aumentar o campo de visão frontal do piloto. Outras mudanças menos percetíveis, incluíram o uso de metal em vez de madeira nas asas nomeadamente nas longarinas, a simplificação do radiador de óleo a sua mudança de baixo do motor para baixo do cockpit, uma nova hélice VISh-105V-4 que possuía o sistema de automação do passo com a aceleração do motor, redução do números de escotilhas na fuselagem, melhorias aerodinâmicas nas carenagens, entre outras. O peso vazio da aeronave diminuiu 71 kg, e o centro de gravidade recuou, reduzindo a margem de estabilidade longitudinal, que influenciou positivamente a taxa de subida da aeronave.

Nas conclusões do relatório dos testes efetuados observava-se que a aeronave La-5 modificada, no padrão de 1944, em termos de velocidade máxima e taxa de subida, estava ao nível dos melhores caças ao serviço de países estrangeiros. A velocidade máxima de 685 km/h a uma altitude de 6.000 metros e um peso de voo de 3250 kg foram praticamente alcançados.

Havia, no entanto, problemas a resolver como, a temperatura da cabina, que podia atingir os 40 graus, e a sua ventilação insuficiente de onde resultavam a presença de gases de escape e o contante cheiro a borracha queimada, a falta de equilíbrio no leme que obrigava o piloto a fazer esforços significativos para evitar a viragem da aeronave.

La-7, com canhões Berezin UB-20
A recomendação para a entrada em produção em serie da aeronave data de março de 1944, e o inicio da produção em serie ocorreu pouco depois, sob a designação de La-7, mas como os protótipos tinham sido armados com três canhões experimentais Berezin UB-20 de 20 mm que não tinham ainda produção de serie nem tinham sido devidamente testados na aeronave, os primeiros lotes de produção possuíam o mermo armamento do antecessor La-5. Somente em julho se verificou que o uso do novo armamento exigia modificações adicionais, razão pela qual a versão armada com os três UB-20 com 340 cartuchos só entraria em produção no verão de 1945.

Os testes operacionais ocorreram entre 15 de setembro e 15 de outubro de 1944, na Ofensiva de Riga na Frente Báltica. Os primeiros La-7 demonstraram possuir um desempenho superior ao seu antecessor La-5FN mas também apresentaram algumas deficiências iniciais que os engenheiros do OKB tiveram que resolver progressivamente. Resolvidas essas deficiências a aeronave foi capaz de superar os caças alemães em combate aéreo tendo inclusive, pilotado pelo ás da VVS Ivan Nikitovich Kozhedub, abatido um caça Messerschmitt Me 262 sobre a Alemanha.

Até final da Guerra foram produzidos 5753 La-7, em três fabricas, Gorky, Ulan-Ude, e Moscovo. Para alem da União Soviética, apenas a Checoslováquia utilizaria o La-7 na sua força aérea sob a designação de S-97.

Um total de 584 aeronaves, foram construídas na variante de instrução com dois lugares em tandem, o La-7UTI. 

La-7R, com motor de foguete RD-1KhZ
Foram igualmente testadas diversas opções para melhoria do moto propulsor que nunca passaram da fase de testes, como a instalação de um supercompresor no motor do La-7Tk, a instalação de um novo motor Shvetsov M-71 no La-7M-71.

Em 1944, no final da Guerra, caças alemães e britânicos com motores turbojato apareceram pela primeira vez na frente, com maior velocidade que os motores a pistão, eles prometiam mudar radicalmente o equilíbrio de forças no ar e era claro que a URSS estava muito atrás no desenvolvimento desta tecnologia.

O desenvolvimento de motores turbojato próprios estava longe de qualquer horizonte realista e por isso em maio desse ano as autoridades soviéticas deram instruções aos gabinetes de projetos experimentais (OKB) para submeterem alterações aos seus projetos de caças para incluírem motores de foguete para aceleração adicional. O OKB Lavochkin submeteu o La-7R que, em teste conseguiu atingir a velocidade máxima de 795 km/h a uma altitude de 6300 metros.

  • La-9
Potótipo La-126
O La-7, apesar de considerado um dos melhores caças da Segunda Guerra Mundial, tinha uma desvantagem, com exceção das longarinas, era construído em madeira, estando por isso, sujeito a uma rápida e elevada degradação, quando exposto aos elementos ambientais. Esta degradação provocava frequentes surpresas que colocavam em terra frequentemente subdivisões inteiras de aeronaves incapacitadas. A solução era conhecida, mas radical, substituir a madeira por metal.

O primeiro passo nesse sentido foi a construção e teste em inícios de 1944 de um La-5 armado com três canhões sincronizados Berezin B-20 de 20 mm. De seguida um La-7 com um perfil de asa laminar foi testado no TsAGI, ao que se seguiu a instalação de um promissor motor Shvetsov ASh-83 com 1900cv, num outro protótipo internamente designado como La-120.

Os testes encorajadores em inícios de 1945 como dois protótipos La-120 chegaram a um beco sem saída devido ao motor insuficientemente desenvolvido, e por isso o projeto evoluiu diretamente para o La-126, uma aeronave equipada com o comprovado motor ASh-82FN, asas de fluxo laminar aperfeiçoadas com apenas uma longarina e revestimento torsional, fuselagem redesenhada quase totalmente metálica e quatro canhões NS-23 de 23 mm.

La-9, em voo
Os testes de voo do La-126 foram concluídos em 1946 com resultados um tanto dececionantes e por isso a aeronave nunca avançou além do estágio de protótipo, mas as soluções testadas foram essenciais à evolução do conceito de um La-7 totalmente metálico, que surgiria sob a forma do Lavochkin La-9. 

O protótipo do La-9 surgiu como evolução direta do La-126, sob a designação interna de La-130, um protótipo de construção totalmente metálica que combinava os desenvolvimentos anteriormente testados e os quatro canhões Nudelman-Suranov NS-23 de 23 mm.

O La-130 e um segundo protótipo La-120D, começaram os testes de voo no início de 1946, demonstrando um desempenho significativamente melhor, que os protótipos anteriores, mas evidenciando também uma longa lista de problemas a resolver. Resolvidos os problemas o novo caça, oficialmente denominado Lavochkin La-9, entrou em produção em agosto de 1946. 

A semelhança do La-9 com o antecessor La-7 era apenas superficial, na realidade o seu aspeto exterior era bem mais próximo do caça alemão Focke-Wulf Fw 190, uma evidencia suportada no facto de a NATO lhe ter atribuído o nome de código “Fritz” nos seus relatórios internos.

La-9V (La-9UTi)
O novo caça era de construção totalmente metálica, o que permitiu reduzir o seu peso, e consequentemente aumentar o volume de e melhorar o armamento, muito mais robusto que os antecessores. Apesar do diferente aspeto o La-9, mantinha a mesma configuração geral do antecessor, e praticamente as mesmas dimensões. Possuía o mesmo motor radial ASh-82FN, equipado com um supercompressor de duas velocidades, uma hélice de três pás de passo variável VISH-105V-4 com um diâmetro de 3,1 m e um spinner de grandes dimensões. Os tanques de combustível auto-selantes, com uma capacidade total de 855, localizavam-se na secção central e externa das asas e o trem de aterragem matinha a mesma configuração clássica do antecessor. O estabilizador vertical mantinha o mesmo recorte do antecessor, porém, as asas, os estabilizadores horizontais e o leme de profundidade tinham um recorte reto, característica que fazia o La-9 assemelhar-se ao Fw-190.

O armamento (o mais pesado, instalado num caça com motor de pistão), quatro canhões Nudelman-Suranov NS-23 de 23 mm, com 300 tiros estava concentrado por cima do capô do motor, apontados por uma mira ótica ASP-1N no cockpit (esta mira fora criada no OKB-16 era uma cópia da britânica MK 2D, usado nos caças fornecidos à URSS durante a guerra. Para controlo de eficácia em combate o La-9 possuía uma camara de tiro na asa direita.

La-9RD, com dois motores pulsojato D-13
O cockpit desenhado para melhorar o conforto do piloto e o regime da temperatura (um problema cronico dos antecessores) era coberto por uma canópia com para-brisas em vidro blindado e uma parte móvel deslizante para a retaguarda. Os aviónicos incluíam um rádio RSI-6, uma rádio bussola RPKO-10M e outros auxiliares de navegação simples, e um transponder IFF SCH-3M.

Um total de 1559 aeronaves foram construídas até ao final da produção em 1948.

Foram igualmente construídas cerca de 256 unidades da variante de instrução La-9 UTI (ou La-9V como era designado para exportação) com controlos duplos, dois lugares em tandem sob uma canópia alongada, armamento reduzido para apenas um canhão e outras melhoramentos nomeadamente a mesma montagem de motor adotada no La-11, o que tornava o La-9UTI um hibrido, por vezes erradamente identificado como La-11UTI.

Um La-9 resiste  ainda condição de voo,
 aqui num festival aereo na Nova Zelândia,
em  abril de 2010
Foram testadas várias formas para melhorar a performance do La-9, nomeadamente a instalação de motores auxiliares nas asas, motores pulso-jato RD-13 em aeronaves que receberam a designação La-9RD ou motores ramjet PVRD-430 nos protótipos La-138 e La-138D, mas nenhuma das soluções se mostrou satisfatória.

A ideia de instalar um motor de foguete no La-130R não chegou sequer a ser concretizada e a instalação de um motor Shvetsov ASh-82M (M-93) experimental no protótipo La-132 também deu em nada.

Na VVS (Força Aérea Soviética), o caça La-9 foi usado até 1952, altura em que foi feita uma completa transição para caças a jato. Os La-9 foram fornecidos como ajuda militar à China e à República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) tendo permanecido no ativo das respetivas forças aéreas durante a década de 1950, e participado na Guerra da Coreia contra as forças da ONU.

  • La-11
Protótipo La-134
A melhor ideia para manter viva a família da aeronave, surgiu de um projeto paralelo destinado a obter a partir do protótipo La-130 um caça de escolta de longo alcance. A concretização da ideia materializou-se no protótipo La-134 (também conhecido inicialmente por La-9M) que realizou o primeiro voo em maio de 1947. A aeronave era muito semelhante ao externamente ao La-9, distinguindo-se pela eliminação do canhão mais à direita (passaram a três), e a mudança do radiador do óleo da barriga para o nariz por baixo do motor. A capacidade de combustível foi aumentada de 825 para 1100 litros com a instalação de tanques na ponta das asas e foi criada provisão para dois tanques externos sob as asas com capacidade adicional para 332 litros. Projetado para escolta de longo alcance de bombardeiros e voos em condições climáticas adversas, a aeronave foi equipada com um sistema anti-gelo, na hélice, asas e empenagem.

O consequente aumento do peso na decolagem da aeronave exigiu o reforço do trem de aterragem, e a instalação de rodas maiores com pneumáticos de alta pressão. 

La-11, avaliado na Checoslováquia em 1947
O aumento da duração do voo durante a escolta de bombardeiros (mais de sete horas) exigiu a instalação de um cilindro de oxigênio adicional, um mictório para o piloto e apoios de braços ajustáveis e um encosto largo e macio no assento.

O aumento do peso prejudicou as características de voo principalmente no período inicial do voo, mas o objetivo de obter um caça de longo alcance com capacidade de escoltar bombardeiros em voos de longa duração (de até cerca de 7 horas) foi conseguido.

A produção em serie como La-11 (reportado na NATO pelo nome de código “Fang”) foi iniciada em finais de 1947 e terminou em 1951 após terem sido construídas 1182 aeronaves, com vários refinamentos introduzidos durante o período de produção (só em 1948, foram feitas 210 alterações ao seu design, o que contribuiu para o aprimoramento das suas características operacionais).

No inicio da década de 1950 alguns La-11 foram convertidos numa configuração destinada ao reconhecimento fotográfico, equipados com uma camara AFA-BA-40 num suporte oscilante, mas estas aeronaves não receberam uma designação distinta das restantes.

La-11, equipado com tanques de combustível
na ponta das asas
Os caças La-11, fornecidos pela URSS aos seus aliados no âmbito dos acordos de auxilio militar, participaram nas primeiras hostilidades da Guerra Fria nomeadamente na inicio da Guerra da Coreia, pilotados por pilotos chineses e Norte Coreanos contra as forças da ONU. Neste conflito, obtiveram várias vitórias contra aeronaves Norte Americanas mas não consta que tenham tido sucesso contra os bombardeiros B-29, que voavam a altitudes próximas dos 10000 metros e para chegar a tal altitude, o La-11 demorava cerca de 26 minutos, sendo apenas 20Km/h mais rápido que o bombardeiro americano.
Na URSS, os caças La-11 obtiveram alguns sucessos na interceção de aeronaves de reconhecimento americanas que se aventuravam no espaço aéreo Soviético. O primeiro incidente ocorreu a 8 de abril de 1950, quando um La-11 abateu aum avião que alegadamente violou o espaço aéreo soviético sobre o Mar Báltico e não obedeceu às ordens do grupo de interceção. Os Norte Americanos alegaram que se tratava de um avião civil com destino à Suécia mas o jornal Izvestia, que investigou o incidente acredita que foi abatido um B-29.No mesmo ano, sobre o Pacifico foi intercetado um P2V Neptune de reconhecimento da Marinha Norte Americana.

No inicio da década de 1950, sobre o Pacifico, ocorreram com alguma frequência confrontos entre La-11 chineses e caças Norte Americanos P-38 Lightning e P-5 Mustang envolvidos na Guerra da Coreia ou indiretamente no conflito entre a China Comunista e Nacionalista.

Os La-9 e La-11 foram retirados do serviço operacional pelos Soviéticos na primeira metade da década de 1950 e pelos restantes utilizadores (China e Coreia do Norte), no inicio da década seguinte. Atualmente existe, pelo menos um La-9 em condição de voo que realiza voos de exibição em festivais aéreos.

FICHA DA AERONAVE
GERAL:
  • ANO DO PRIMEIRO VOO: 1940 (LaGG-3)
  • PAÍS DE ORIGEM:  URSS
  • PRODUÇÃO:  25574 (todos os modelos, do LaGG-3 ao La-11 - ver detalhe abaixo)
  • PAÍSES OPERADORES: URSS, Coreia do Norte, Checoslováquia, China, Finlândia,  
ESPECIFICAÇÕES DE VARIANTE 
  • VARIANTE: La-7
  • FUNÇÃO: Caça
  • TRIPULAÇÃO:  1
  • MOTOR:  1 x  motor radial Shvetsov ASh-82FN de 1850cv
  • PESO VAZIO: 2638 (kg)
  • PESO MÁXIMO NA DESCOLAGEM:  3315 (kg)
  • COMPRIMENTO: 8,60 (m)
  • ENVERGADURA: 9,80 (m)
  • ALTURA: 2,54 (m)
PERFORMANCE
  • VELOCIDADE MÁXIMA:  xxxx (km/h)
  • RAIO DE COMBATE: 665 (km)
  • TETO MÁXIMO:  10450  (m)
ARMAMENTO
  • FIXO: 
2 x canhões ShVAK  de 20 mm com 200 tiros por arma; ou 
3 x canhões Berezin B-20 20 mm com 100 tiros por arma
  • CARGA BÉLICA:
até 200 kg de bombas

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PERFIL
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DESENHOS
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FONTES
REVISÕES E RECURSOS ADICIONAIS
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  • Publicação e Revisões
# Publicado em 2020-11-05 #
  • Recursos Adicionais
# Detalhe da produção dos caças Lavochkin com motor de pistão:

Aeronave

Período

Unidades

LaGG-3

1941-1944

6 528

La-5

1942-1944

9 920

La-7 (*)

1944-1947

6 335

La-9

1946-1948

1 559

La-11

1947-1951

1 232

Total

 

25 574

(*) Incluindo 582 para instrução, La-7Uti









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