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O IAR 80/81 foi um caça, projetado e produzido na Roménia no período que antecedeu início da segunda guerra mundial pela Industria Aeronáutica Romena (IAR). Quando voou pela primeira vez, em 1939, ele era comparável em design e performances aos melhores caças contemporâneos, como o alemão Messerschmitt Bf 109, ou o britânico Hawker Hurricane, e superior ao holandês Fokker D.XXI, ao polaco PZL P.24 e aos soviéticos Polikarpov I-153 e I-16. No entanto, problemas de produção e a dificuldade na obtenção do seu armamento atrasaram a sua entrada para o serviço da FARR (Real Força Aérea Romena) até 1941. Quando se tornou disponível tinha já sido ultrapassado por muitas das aeronaves em uso pelos beligerante, mas era ainda superior à maioria dos caças soviéticos que inicialmente enfrentou. No decorrer da guerra enfrentaria com algum sucesso inicial as forças de bombardeiros da USAAF que atacaram a Roménia mas foi impotente quando teve que enfrentar os caças de escolta de longo alcance americanos em 1944.
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GALERIA
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HISTÓRIA
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Em meados da década de 1930 a maioria das aeronaves da FARR ou ARR Aeronautica Regala Romana, (Real Aeronáutica Romena) eram obsoletos, e por isso a IAR (Industria Aeronáutica Romena) propôs, em novembro de 1936 ao Ministério do Ar e Marinha, um projeto para um caça monoplano de asa baixa e construção totalmente metálica projetado pelos professores Ion Grosu e Ion Cosereanu, e engenheiros Gheorhe Zotta, Viziru Grosu e Ion Wallner, e que seria equipado com um motor Junkers Jumo 211Da de fabrico alemão.
PZL P.24 |
Em 1930, o governo romeno emitira uma especificações para um novo caça mas embora a IAR tivesse apresentado vários projetos para responder à especificação, o contrato para o fornecimento de 50 aeronaves acabaria por ser entregue ao fabricante estatal polaco PZL (Państwowe Zakłady Lotnicze) com uma versão modificada do seu PZL P.11, que seriam entregues em 1934.
Um segundo contrato para o fornecimento de outras 50 aeronaves seria disputado entre o projeto do IAR 14 e o PZL P.24, e igualmente ganho pela empresa polaca.
Os projetos da IAR não entraram em produção, no entanto, a construção das aeronaves PZL e respetivos motores Gnome-Rhone 14K acabaria por ser realizada sob licença nas suas unidades de montagem resultando daí uma capacidade acrescida para continuar a desenvolver os seus próprios projetos mesmo que nunca viessem a entrar em produção.
Uma equipa de projetistas liderada pelo Professor Ion Grosu continuou a desenvolver projetos de aeronaves de combate convencido que o design de asa baixa do IAR 24 era melhor que os de asa de gaivota das aeronaves PZL. Beneficiando do conhecimento obtido com a construção das aeronaves PZL, a equipa estudou um novo caça procurando incorporar numa fuselagem do PZL P.24 modificada uma asa baixa, daí resultando o IAR 80.
Protótipo do IAR 80 |
O primeiro protótipo foi construído lentamente e por isso apenas ficou concluído em abril de 1939, altura em que realizou o primeiro voo. Nos voos de teste do protótipo que se seguiram a aeronave demonstrou uma performance impressionante para a época. Conseguiu atingir os 510 km/h a 4000 metros de altitude, com um teto de serviço de 11000 metros, atingindo os 5000 metros em apenas 6 minutos, uma taxa de subida respeitável, embora inferior à dos seus contemporâneos Supermarine Spitfire ou Messerschmitt Bf 109. Em comparação com o PZL P.24E era quase 450 kg mais leve e 80 km/h com mais rápido, usando o mesmo motor. Demonstrou também um bom comportamento em voo e uma boa manobrabilidade.
O protótipo do IAR 80 era um monoplano de asa baixa com superfícies de controlo convencionais. As asas eram retangulares de pontas arredondadas, com o bordo de fuga ligeiramente afunilado para a frente com pequenos retalhos executados a partir da fuselagem onde corriam compridos ailerons, e com um perfil, que segundo algumas fontes tinha sido copiado diretamente dos bombardeiros italianos Savoia-Marchetti SM.79, que tinham entretanto sido adquiridos pela FARR, resultando daí uma asa pouco adequado a elevadas velocidades mas que dava à aeronave uma elevada manobrabilidade.
IAR 80, a primeira celula de série |
O motor radial IAR K14 de catorze cilindros arrefecido a ar, que movia uma hélice de três pás de passo variável VDM 9, tinha logo atrás o tanque de óleo e dois tanques de combustível com capacidade total de 403 litros, o que colocava o cockpit, logo a seguir, numa posição bastante afastada da hélice o que podia ser considerado uma desvantagem, uma vez que o piloto quase não via nada na frente dele em ascensão ou durante a manobras de descolagem. O trem de aterragem principal retraia para dentro das asas mas na cauda apenas dispunha de um simples patim não retrátil.
O protótipo estava armado com duas metralhadoras Browning FN de 7,92 milímetros, mas dispunha de provisão para a instalação de mais duas, um total de quatro metralhadoras com 2440 munições por arma. Os instrumentos do cockpit, incluindo a mira seriam importados de vários fornecedores estrangeiros num este esforço, já em período de guerra, de manter o seu fornecimento de acordo com as necessidades e evitar os constrangimentos provocados pelo conflito.
Uma série de pequenos problemas surgiram durante a fase do protótipo e foram tratados no ano seguinte. Para melhorar a potência, o desenho foi atualizado para montar a versão IAR K.14-III C36 do motor com 930cv, que era, no entanto mais pesada que o C32, o que exigiu que a fuselagem traseira fosse esticada para mover o centro de gravidade de volta para a posição correta. O espaço extra na fuselagem permitiu que os tanques de combustível aumentassem para 455 litros e ao mesmo tempo as asas foram ampliadas e a empenagem fosse revista para retirar os montantes originais. Um efeito colateral foi a deslocação do cockpit mais para trás tornando a visibilidade do piloto para a frente pior. Para obviar esse problema o assento do piloto foi elevado e foi adicionada uma canópia de bolha.
O protótipo atualizado foi testado de forma competitiva contra o Heinkel He 112 , que chegou à Roménia como o início de uma encomenda potencialmente grande. Embora o He 112 fosse mais moderno e muito mais bem armado, com duas metralhadoras e dois canhões de 20 milímetros, a FARR acabaria por encomendar 100 IAR 80 em dezembro de 1939, e apenas 30 He 112. Em agosto de 1940 encomendaria mais 100 IAR 80, a que se seguiriam outras duas encomendas de 50, em 5 de setembro de 1941 e 11 de abril de 1942, e depois outras 100 em 28 de maio de 1942, seguidas por uma de 35 do para a versão IAR 81C em Fevereiro de 1943, com mais 15 em janeiro de 1944.
IAR 80, em manutenção de campo |
Um major piloto da Luftwaffe que testou o IAR 80 em março de 1941 referiu sobre o mesmo que tinha um comportamento muito bom durante a descolagem e aterragem, era mais lento apenas 20 a 30 km/h que o Bf-109E, e tinha uma taxa de subida e manobrabilidade equivalentes. Em um mergulho era ultrapassado pelo Bf-109E, por não possuir um regulador de passo de hélice automatizado, mas apesar disso era um caça adequado às necessidades modernas.
- IAR 80
A produção do IAR 80 começou imediatamente, mas o armamento para além de ser demasiado ligeiro para fazer frente às aeronaves modernas tornou-se um serio problema. O modelo de produção previa ter seis metralhadoras Browning FN de 7,92 milímetros de construção belga, mas a invasão Alemã da Bélgica em 1940 suspendeu o fornecimento daquela arma e consequentemente a produção da aeronave foi interrompida. Os alemães só permitiram a entrega das armas à Roménia depois desta se juntar ao Eixo em novembro de 1940. Como resultado, o primeiro lote de 20 IAR 80 apenas saiu da linha de produção em janeiro de 1941 sendo entregue à FARR em fevereiro mas mesmo assim o armamento permaneceu inadequado, de modo que os modelos de produção apenas levavam quatro armas. No seguinte lote de 30 aeronaves foi instalado um motor K14-IV C32 de 960cv mas o poder de fogo foi mantido apesar de considerado manifestamente insuficiente.
- IAR 80A
IAR 80A, Gr. 9, 1943 |
- IAR 80B
O combate à União Soviética mostrou que até as seis das armas FN eram insuficientes para fazer frente aos caças da VVS e por isso foram retiradas metralhadoras FN de 13,2 milímetros dos Savoia-Marchetti SM.79 da FARR para instalar numa nova asa alongada a adaptar ao IAR 80. O resultado foi o IAR 80B, que também introduziu novos rádios, uma área onde a aeronave demonstrara ter problemas. Um total de 50 aeronaves da nova versão foram concluídas entre junho e setembro de 1942, incluindo 20 células que originalmente deveriam ser IAR 81A. Os últimos 20 foram também capazes de transportar uma bomba de 50 kg ou um tanque de queda de 100 litros sob cada asa.
- IAR 81
Ainda antes do inicio da guerra na frente oriental em 1941 a FARR tinha a intenção de substituir suas aeronaves de ataque ligeiro e bombardeiros. A primeira função era ocupada pelo biplano IAR 37 (e mais tarde 38 e 39 modelos), e a segunda pretendia-se viesse a ser ocupada por Junkers Ju 87 a adquirir aos alemães. Mais uma vez, os alemães ignoraram os pedidos da FARR deixando os romenos à procura de uma aeronave. A modificação do IAR 80 existente como um bombardeiro de mergulho foi vista como uma opção razoável, mais fácil do que projetar uma aeronave totalmente nova para alem de ter benefícios óbvios na produção.
IAR 81 |
Foram encomendados cinquenta, IAR 81 em meados de 1941, mas depois de 40 terem sido entregues, foi adicionados um suporte sob cada asa para uma bomba de 50 kg que também poderiam transportar tanques de queda de 100 litros, permitindo que os IAR 81 fossem usados como caças de longo alcance.
Os pilotos não apreciavam a aeronave, pois o arrasto provocado pelo suporte de bomba sob a fuselagem diminuía significativamente as suas performances.
- IAR 81A, B e C, e IAR 80C
Tal como a versão caça também o IAR 81 passou pelas mesmas dificuldades no armamento. Assim à medida que as armas iam sendo obtidas as células foram sendo atualizados da mesma forma. Os 81A tinham um complemento de quatro metralhadoras FN de 7,62 milímetros e duas e 13,2 milímetros. A única característica distintiva entre o IAR 80B e o 81A era a engrenagem de suporte e lançamento de bombas da fuselagem deste ultimo, e ambos foram construídos na mesma linha de montagem.
IAR 80C, visível o longo cano do canhão MG FF/M na asa |
- IAR 81C
A versão final em tempo de guerra foi o IAR 81C, que alterou novamente o armamento, substituindo os MG FF/M por canhões genuinamente alemães os Mauser MG 151/20, de 20 milímetros que equipavam um grande numero de aeronaves alemãs. A encomenda para 100 células IAR 81C foi colocada em maio de 1942, incluía todas as atualizações anteriores da série 81, mas com o suporte da bomba da linha central removido para ser usado como caça. Uma encomenda adicional de 35 células foi colocada em fevereiro de 1943, e uma outra para mais 15 em janeiro de 1944. Essas aeronaves destinavam-se principalmente a substituir as perdas dos modelos anteriores, uma vez que a FARR, conseguira já um fornecimento de Messerschmitt Bf 109G.
- IAR 80M
IAR 80M, após a guerra |
- IAR 80DC
Após o final da Guerra os IAR 80 permaneceram no serviço da FARR até 1949, quando foram substituídos por Lavochkin La-9 e Ilyushin Il-10 de fabrico Soviético. As células dos IAR 80 com menor numero de horas de voo foram modificadas, sendo removido um dos tanques de combustível na frente do cockpit e adicionado um segundo assento, obtendo assim uma aeronave de instrução que seria designada por IAR 80DC. Estes foram usados por pouco tempo sendo substituídos no final de 1952 por Yakovlev Yak-11 e Yakovlev Yak-18 .
IAR 80DC |
- História operacional
Quando a Operação Barbarossa começou, os IAR 80 que equipavam três esquadras da FARR foram encarregues de apoiar os 3º e 4º Exércitos da Roménia implantados no flanco sul da Frente Oriental.
Em 22 de junho de 1941, durante o primeiro dia da ofensiva, o IAR 80 tive o seu batismo de fogo, conseguindo uma única vitória aérea em quatro combates aéreos separados com aeronaves soviéticas.
IAR 80C do Gr. 6, no aeródromo Popesti Leordeni Bucuresti, janeiro, 1944 |
No Verão de 1943 com o intensificar dos ataques aéreos da USAF em território romeno, todas as forças da FARR regressaram à Roménia para serem concentrados na defesa aérea. Os ataques da USAAF eram direcionados particularmente para as refinarias de petróleo de Ploieşti , e em 1 de agosto de 1943, o IAR 80 enfrentou o bombardeiro pesado Consolidated B-24 Liberator pela primeira vez. Nesse dia 178 B-24 da USAAF baseados no Norte de África, tomaram parte na operação Tidal Wave atacando em vagas sucessivas as instalações petrolíferas romenas. Grupos de caça da FARR equipados com IAR 80/81, Bf 109G, e Bf 110 enfrentaram os bombardeiros da USAF reivindicando 25 vitórias certas e prováveis com apenas duas perdas, um IAR 80B e um Bf 110C. Os americanos perderam em combate ou no regresso 51 bombardeiros. Apenas 89 atingiram as suas bases, e desses apenas 31 estavam em condição de regressar ao combate.
IAR 80 a abater um P-38 da USAAF, (visão artística, alegadamente da época) |
A USAAF perdeu 22 ou 23 P-38 naquele dia, com os romenos a reivindicarem 24 vitórias e apenas 3 perdas, o que é contrariado pelos americanos que reivindicaram 23 vitórias.
A USAAF nunca mais repetiria o perfil da missão de bombardeio de mergulho com P-38, mas, durante 1944, as aeronaves da USAAF intensificaram os ataques. sobre a Roménia.
Entre 04 de abril e 18 de agosto de 1944 os Aliados retomaram a campanha de bombardeamento sobre a Roménia. Além de refinarias de Ploiesti os ataques visavam outras infraestruturas no sul do país como depósitos de combustível, fábricas etc. Os bombardeiros da USAAF descolavam do sul da Itália muitas vezes escoltados por caças P-51 Mustang e depois de fazer missões sobre a Roménia iam reabastecer na Ucrânia a partir de onde voltavam a atacar alvos na Roménia para só então regressar às bases na Itália. Estas missões de cooperação entre os EUA e a URSS, ficariam conhecidas como Operação Frantic e tiveram também a participação de forças da RAF a partir de bases em Inglaterra.
A partir do momento em que os bombardeiros passaram a ser escoltados pelo caça de longo alcance North American P-51 Mustang os IAR 80/81 da FARR viram-se impotentes perante o moderno adversário. Por causa de seu fraco motor o IAR 80/81 era presa fácil para as escoltas de P-51 Mustang nas altas altitudes, para onde se tinham passado a realizar os combates aéreos.
Num período de quatro meses, as três esquadras da FARR que se mantinham equipadas com o IAR 80/81, perderam 36 pilotos, um numero que excedeu largamente o número de vítimas sofridas nos dois anos e meio anteriores de luta contra os soviéticos. Por causa destas grandes perdas, todas as unidades de IAR 80/81 foram retiradas do combate contra os americanos em julho de 1944 e os pilotos convertidos para o mais moderno Bf 109G-6.
Destroços de um IAR 80, inspecionado por soldados soviéticos |
As unidades de IAR 80 sobreviventes foram relegadas para o papel secundário de ataque ao solo, realizando a última missão em tempo de guerra em 8 de maio de 1945.
Durante toda a guerra, o IAR 80/81 terá obtido 539 vitórias confirmadas e 90 prováveis, em combate aéreo e 168 no solo, somando cerca de 220 perdas em combate.
FICHA DA AERONAVE
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- ANO DO PRIMEIRO VOO: 1939
- PAÍS DE ORIGEM: Roménia
- PRODUÇÃO: 448
- PAÍSES OPERADORES: Roménia
- VARIANTE: IAR 81C
- FUNÇÃO: Caça
- TRIPULAÇÃO: 1
- MOTOR: 1 x IAR K14-1000A de 14 cilindros arrefecido a ar com 1025cv
- PESO VAZIO: 2200 (kg)
- PESO MÁXIMO NA DESCOLAGEM: 2980 (kg)
- COMPRIMENTO: 8,97 (m)
- ENVERGADURA: 11,00 (m)
- ALTURA: 3,54 (m)
- VELOCIDADE MÁXIMA: 560 (km/h)
- RAIO DE COMBATE: 730 (km) (1330 com tanques externos)
- TETO MÁXIMO: 10000 (m)
- FIXO:
2 x canhões MG 151/20 de 20 mm
4 x metralhadoras FN de 7.92 mm
- CARGA BÉLICA:
1 x bomba de 225 kg sob a fuselagem (IAR 81A) ou,
2 x bombas de 50kg nas asas
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PERFIL
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DESENHOS
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FONTES
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REVISÕES E RECURSOS ADICIONAIS
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- Publicação e Revisões
# Publicado em 2017-06-17 #
- Recursos Adicionais
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